Collage - O que é isso?

Na colagem os surrealistas apreciaram principalmente o processo no qual o uso da imagem do que é supostamente real a transforma numa outra realidade resultante da poesia plástica. Foi a partir desse princípio que Max Ernst iniciou suas experimentações com a técnica, percebendo que o processo não se dá apenas no ato de colar, mas sim na relação com a imagem, desde o momento da escolha, passando pelo recorte, ou seja, o distanciamento que se faz da imagem em relação a seu cenário normal, indo para o ato de colar, ou simplesmente unir esse elemento a outros, dando a ele outro significado na composição, utilizando-se de seu significado anterior. Esse procedimento é presente em esculturas, em músicas, espetáculos teatrais, em todo tipo de obra, independentemente do uso de cola, papel ou tesoura para sua realização. A essa linguagem Max Ernst deu o nome de collage.

Introdução
O foco principal da pesquisa é a busca de informações que definam o que é collage. Para isso é necessário embasamento histórico, possibilitando destacar as idéias que reconheceram o processo de colagem como uma forma de representação, desde a origem até sua utilização em obras contemporâneas.

Colagem é a arte que em sua essência contribui para diversos processos de criação além do uso da cola e do papel. A frase do artista surrealista Max Ernst “Se são as plumas que fazem a plumagem, não é a cola que faz a colagem” (ALEXANDRIAN, 1973, p. 66) nos faz sentir a necessidade de considerar a linguagem surrealista expressa através da colagem, desde os movimentos de vanguarda até a contemporaneidade, não apenas como uma técnica de arte plástica, mas como um conceito, a que o próprio Ernst chamou de collage. Portanto, é importante destacar o valor da colagem não só como parte do processo de criação, mas como uma forma significativa, pouco discutida quanto ao resultado poético na composição das obras e frequentemente usada, mesmo que inconscientemente, por artistas, inclusive contemporâneos.

A sobreposição, a dispersão de imagens ou até mesmo a junção de imagens dispersas, são situações possíveis com a técnica de colagem, que foi desenvolvida há muito tempo e incorporada às diversas linguagens artísticas, sendo interpretada de diferentes maneiras, principalmente a partir do século XX, com o cubismo, o dadaísmo, o surrealismo e outros movimentos artísticos. Porém é na collage, a colagem surrealista, que se encontra o processo de distanciamento provocado pela fragmentação e produzido através da recriação da realidade com a sua justaposição. Como destaca Renato Cohen (2002, p.64),

“A essência da collage é promover o encontro das imagens e fazer-nos esquecer que elas se encontram”. Nessa definição, o crítico de cinema J. C. Ismael salienta o alcance da collage, indo além das artes plásticas, ao relacioná-la às imagens, que podem ser encontradas em todas as artes. A codificação, por exemplo, muito utilizada em obras contemporâneas, é uma característica que muitas vezes, até hoje, se utiliza da collage não com o ato de colar, mas em sua essência, relacionando símbolos que antes estavam distantes.

A liberdade e os propósitos do movimento surrealista vieram como uma resposta às necessidades da época. “Assim, fez nascer uma forma de sensibilidade que marcou profundamente a arte contemporânea e permitiu uma enorme variedade de exigências e de processos criadores” (ALEXANDRIAN, 1973, p.7). O uso da colagem permitiu ampliar o horizonte surreal onde já se pretendia ultrapassar a realidade e a banalidade estética, como explica Sérgio Lima. Segundo esse autor, o movimento surrealista estabeleceu, “junto ao moderno e ao contemporâneo, a imagem como um valor determinante para o conhecimento, livre de qualquer conceituação estética ou modismo” (LIMA, 1984, p.9). Assim, a junção do ideal surrealista com a essência da colagem resulta na fascinante linguagem denominada collage.

A collage é a arte que dá uma nova chance para a
imagem criada na consciência humana, a chance de
ser luz de reflexão, grito de protesto ou suspiro do inconsciente.

Agradecimento: Aline Fonseca e Alexandre G. V. B.

Salvador Dali


Você tem que criar a confusão sistematicamente, isso liberta a criatividade. Tudo o que é contraditório cria vida. Salvador Dali.